Friday, December 7, 2018

Ọ̀rọ̀ ojoojumọ́ A nossa Conversa diária O fim de Semana Escolar em Lagos



 
Esse artigo é uma homenagem ao esforço de educadores dos dois lados do Atlântico negro, pelo resgate da educação que dignifica o homem e a mulher não só afrodescendentes como também a todos os que buscam a construção, ou melhor, o resgate de uma sociedade global na qual a vida seja parametrizada por valores de respeito à senioridade e a história familiar alargada aos moldes das famílias Iorubás.

Minha preocupação se aprofunda enquanto testemunho diariamente o desfile de eventos a configura o extermínio dos jovens afrodescendentes baianos e brasileiros, dizimados por conta de um desengajamento cultural assustador.

Não faz muito tempo e eu, trafegava por uma artéria da cidade de Salvador na companhia de minha esposa, e de dois netos menores de idade (sendo um deles, na época, ainda um bebe) tivemos os celulares subtraídos por dois jovens. Estavam em uma motocicleta e um deles, um rapaz afrodescendente de boa aparência e boa estatura, ocupando a garupa da referida motocicleta, apontava uma arma de fogo para minha esposa enquanto ordenava que entregássemos os pertences de valor incluindo telefones celulares

Isso é o cúmulo do desamor, da falta de criação respaldada na compaixão e no respeito a senioridade. É a declaração de validade do reino da ignorância do significado de família e essa não é, definitivamente, uma característica das culturas africanas e das famílias africanas, eu posso garantir.

Não há necessidade que justifique a agressão a Ancestralidade representada pelo desrespeito a sênior na medida em que esse tipo de atitude se instalou na sociedade brasileira.

Por isso, trago esse texto para homenagear dois educadores, um deles afrodescendente e o outro africano nato pelo exemplo deles exigir que tomemos posição pelo resgate dos valores da família alargada a exemplo do que prega a cultura iorubá-nagô.

Minhas homenagens vão, no lado de cá do Atlântico negro, para o Professor Dr. Padre Gilson Magno dos Santos, baiano de Cachoeira, Professor Titular de Língua e Literatura Latinas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com pós-doutorado em letras clássicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Professor Padre Gilson é graduado em Teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense (Roma, Itália, 1986) e é Pós-Doutor em Letras Clássicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 2017).

É Mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Vaticano, 1992) e Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Vaticano, 1993). Ministra aulas no curso de Mestrado em Museologia e coordenador de projetos no Instituto Federal da Bahia (IFBA). Sonho em vê-lo no futuro com Monsenhor ocupando a vaga deixada pelo saudoso Padre Sadock.

Do outro lado do Atlântico negro, minha homenagem vai para o Professor Dr. Félix Ayoh´OMIDIRE, um irmão iorubá, um baluarte da defesa da língua e da cultura Ioruba em todo o mundo é Professor Titular I de estudos literários, étnico-raciais e culturais luso-afro-brasileiros e afro-latino-americanos na Universidade Ọbafẹmi Awolọwọ, Ile-Ife, Nigéria, mesma instituição acadêmica onde obteve sua graduação nas áreas de Francês e Português.

O Professor Félix foi professor de intercâmbio da Universidade Federal da Bahia (2002-2006). Atualmente, é professor titular de língua portuguesa e estudos literário, culturais e étnico afro-brasileiros da citada Universidade que fica em Ile-Ife, Nigéria.

Ele tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Comparada e estudos culturais e identitários, atuando principalmente nos seguintes temas: iorubanidade, diáspora iorubana, ancestralidade, memória, globalização; Africanidades: cultura e tradição, literatura africana contemporânea, feminismo africano, literatura franco-africana, cultura africana e cultura iorubana, turismo, memória cultural e história das diásporas iorubanas em sociedades latino-americanas e afro-caribenhas.

            O texto que me mobilizou está em um blog intitulado “The Yoruba blog”, publicado em língua iorubá (que na nossa Bahia da colonização até os anos 1950, era referida como língua nagô) com tradução para o inglês e tem o seguinte título: “Ohun ti mo fẹ́ràn nípa Ìsimi Iparí Ọ̀sẹ̀”, o que em português ficaria algo como “O que eu amo do recesso de fim de semana” ou ainda “O que eu mais gosto de curtir no fim de semana”.

            Destaco ainda dois pontos em relação ao texto:

i.               Se trata de um relato gerado por um estudante acerca do seu cotidiano escolar em uma instituição de ensino secundário que funciona em Lagos, e do seu envolvimento com sua família, uma narrativa que contraria um preconceito instituído no ocidente segundo o qual na África só existe fome, ignorância e desamor.

ii.            Está escrito originalmente em língua iorubá, demonstrando que se trata de uma língua dotada de léxica e semântica,
 
Vamos ao texto (o qual irei traduzindo cada parágrafo à medida em que a narrativa avança):
 
Ohun ti mo fẹ́ràn nípa Ìsimi Iparí Ọ̀sẹ̀ 
Tradução: “O que eu mais gosto de curtir no fim de semana”
Ni ọjọ́ Ẹti, ọjọ́ karun ti a ti bẹ̀rẹ̀ ilé-iwé ni ọ̀sẹ̀, inú mi ma ń dùn nitori ilé-iwé ti pari ni agogo kan ọ̀sán, ti ìsimi bẹ̀rẹ̀.
Tradução:
Na sexta-feira, o quinto dia da semana escolar, eu fico muito feliz por que o recesso semanal escolar começa à uma hora da tarde.
Mo fẹ́ràn ìsimi ipari ọ̀sẹ̀ nitori mo ma nri àwọn òbí mi.  Lati ọjọ́ Ajé titi dé ọjọ́ Ẹti, mi o ki ri ìyá àti bàbá mi nitori súnkẹrẹ-fàkẹrẹ ọkọ̀ ni Èkó, wọn yio ti jade ni ilé ni kùtùkùtù òwúrọ̀ ki n tó ji, wọn yio pẹ́ wọlé lẹhin ti mo bá ti sùn.
Tradução:
Gosto do fim de semana por que eu encontro com meus pais. De segunda a sexta, eu não encontro com eles por conta de eles acordarem muito cedo e saírem quando eu ainda estou dormindo para assim evitar o tráfego da cidade de Lagos e quanto retornam tarde da noite eu já estou dormindo.
Mo tún fẹ́ràn ìsimi ipari ọ̀sẹ̀ nitori mo ma ńsùn pẹ́, mo tún ma a ńri àyè wo eré lori amóhùn-máwòrán.  Ni àkókò ilé-iwé, mo ni lati ji ni agogo mẹfa òwúrọ̀ lati múra fún ọkọ̀ ilé-iwé ti yio gbé mi ni agogo meje òwúrọ̀.  Ṣùgbọ́n ní igbà ìsimi ipari ọ̀sẹ̀, mo lè sùn di agogo mẹjọ òwúrọ̀. 
Tradução:
Também gosto do fim de semana por que posso dormir tarde, posso também ver programas de televisão. Durante a semana escolar, eu acordo as seis da manhã para me preparar para tomar a condução escolar que me apanha as sete. Porém, no fim de semana, eu posso dormir até as oito da manhã.
Ni ọjọ́ Àbámẹ́ta, ìyá mi ma nṣe oriṣiriṣi oúnjẹ ti ó dùn, mo tún ma njẹun púpọ̀.  Ni ọjọ́ Àikú (ọjọ́ ìsimi) bàbá mi ma ngbé wa lọ si ilé-ìjọ́sìn, lẹhin isin, a ma nlọ ki bàbá àti ìyá àgbà.  Bàbá àti ìyá àgbà dára púpọ̀.
Tradução:
No sábado, minha mãe prepara várias comidas muito gostosas, e eu posso comer muito. No domingo, meu pai nos leva para a igreja, e depois da igreja nós vamos cumprimentar meu avô e minha vó. Meu avô e minha vó são muito bons.
Ni ọjọ́ Àikú ti ìsimi ti fẹ́ pari, inú mi ki i dùn nigbati òbí mi bá sọ wi pé mo ni lati tètè sùn lati palẹ̀mọ́ fún ilé-iwé ti ó bẹ̀rẹ̀ ni ọjọ́ Ajé.
Tradução:
No domingo, quando termina o recesso do fim de semana, eu não gosto muito por que os meus pais me fazem ir para cama mais cedo por conta de me preparar para a semana escolar que começará no dia seguinte, segunda-feira.

Referências:

1.    Gilson Magno dos Santos


2.    Fèlix Ayoh OMIDIRE :


3.    Imagem


 

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