O texto que segue é dedicado ao Professor Dr. e
Acadêmico Ogán Ordep Serra e a minha querida Ekedji
Cinha e ao meu tio Arnaldo Silva, da Escola de Samba Filhos do Tororó.
Ekedji,Ago
mo juba Egbon mi Ki Ọlọ́run Fe̟ O
“ emoriô deve ser
uma palavra nagô
uma palavra de amor
um paladar... emoriô deve ser
alguma coisa de lá
o Sol, a Lua, o céu
pra Oxalá...” Compositor: João Donato (música) Gilberto Gil (letra)
uma palavra nagô
uma palavra de amor
um paladar... emoriô deve ser
alguma coisa de lá
o Sol, a Lua, o céu
pra Oxalá...” Compositor: João Donato (música) Gilberto Gil (letra)
Acho
que todos na Bahia já ouviram essa música gravada.
Que
delícia o som dessa música, não é?!
Os
dois motivos principais para esse artigo foram:
1)
o programa “Saraus” da Globo News, no qual o Jornalista Chico Pinheiro se
delicia e nos delicia com boa música, através de seus convidados maravilhosos e
2)
A posse do (meu amigo e irmão em Xangô) Antropólogo
Cachoeirano Ordep Serra, na cadeira 27 da Academia de Letras da Bahia (ALB) nessa
quinta-feira próxima passada dia 4 de setembro, para ocupar a vaga deixada por
James Amado. Vale lembrar que Serra também é escritor, premiado duas vezes com
um livro de contos, pela própria ALB, além de ser especialista em cultura grega
e maior defensor da nossa (dele também) Cultura Jeje-Bantu-Nago- Ameríndia.
Quando
assisti ao programa da série “Saraus” no qual o convidado era ninguém menos que
o João Donato, eu, finalmente atentei para a autoria da música “Emorio”, vez
que eu só enxergava o nome de Gilberto Gil associado a esta delicia sonora. Em
especial quero destacar o batuque bem nosso que o Robertinho Silva fez na bateria
juntando tambores e agogô naquela oportunidade... que maravilha!. Transportei-me
a oportunidade que tive de dançar Ijexá no Aconchego da Zuzú com a própria Mãe Zuzú,
já com mais de 100 anos de idade, há alguns anos.
Mas
a história não começou aí. Eu era criança no bairro do Tororó, sobrinho de
Arnaldo Silva, filho de Conceição, irmã mais velha dele (hoje no Ọrun), e costumava aguardar, como todos no bairro, com ansiedade, a
visita dos Filhos de Gandhi, que acontecia, na terça-feira de Carnaval,
constituindo assim um clímax do festejo, ao lado da saída da Escola de Samba
Filhos do Tororó.
É preciso colocar o processo de assimilação da cultura Iorubá-Nagô no recorte
delineado pela cultura eurocêntrica imposta ao povo brasileiro e baiano pelas
elites de poder desde a epopéia do “descobrimento”, passando pelas “Entradas e
Bandeiras” e pela “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freire. Esse recorte
cruel foi muito bem assimilado pela massa popular da Bahia dos idos de 30,40 e
50, época florescente do projeto eugenista da sociedade brasileira, que via no “branqueamento”
do povo a “solução” para “os problemas” do Brasil. Com todo o respeito que
merece um Gilberto Gil e um João Donato, peço licença para depor com
conhecimento de causa sobre os fatores que nos distanciam da Cultura Iorubá-Nagô,
legado tão rico que traz estudiosos de todas as partes do mundo interessados
nos sues detalhes que só permaneceram aqui por terem sido preservados com obstinação
pelos Templos Religiosos de Matriz Africana.
Na minha casa, (preciso enfatizar que minha casa era uma casa de gente
preta?) o que era defendido de forma tácita e implícita, e explicita (quando
tal face da educação se tornava de exposição necessária) era a adoção do modelo
etnocêntrico europeizante. A esperança era de que os filhos tivessem o “bom
senso” de “limpar a família”. Minha mãe foi criada por uma família de mulatos
de pele clara que ascenderam à classe média. Daí, o leitor pode fazer a sua
leitura.
Gente, o processo de discussão sobre a diversidade étnico-racial que vem
ocorrendo em todo o mundo, tem se dado também no Brasil em vários setores da
sociedade. Entretanto, não há uma discussão efetiva em torno do cerne da
verdade, e sem a verdade toda a discussão se torna cosmética e será substituída
pela próxima moda. O resgate histórico da situação do afro-religioso, desde os
diversos momentos incluindo o momento no qual foi interditado por força de lei, a qual só cessou na década de 70 com o
Governador Roberto Santos, precisa ser discutido de forma sincera e corajosa
para garantir,de vez, ao povo, o direito ao livre exercício de sua
religiosidade, ao exercício escolar da História do Negro , e o acesso das
comunidades vulneráveis (muito mais numerosas,do que reflete a vã estatística
do Estado) à escolaridade e a outros bens e serviços que refletem no nível de
desequilíbrio e da violência.
Quanto à “palavra Emoriô”, não é uma palavra e sim uma
frase, que em Iorubá se escreve como “Ẹ mo ri O” e significa “Eu Te vejo”. No caso o “O” maiúsculo é que enfatiza
referencia a um Ser Superior, digno de Reverencia, daí a associação a Oxalá, ou
em Iorubá “Òris̟a ni ńlá”, que significa “Guardião que está no alto”, ou “Orixalá”, ou como pronunciamos
na nossa Bahia, OXALÁ.
Referencias:
2.
FERNADES, Gláucio da Gama. SILVA, Arlete
Oliveira da Conceição Anchieta da. LIBERDADE RELIGIOSA NOS CULTOS
AFRO-BRASILEIROS: UM ESTUDO NA CIDADE DE MANAUS – AMAZONAS. http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1308348266_ARQUIVO_LiberdadeReligiosanosCultosAfro-brasileiros-CONLAB.pdf
acessado em 08/09/14;
3.
O antropólogo Ordep Serra é eleito para
a Academia de Letras da Bahia http://www.metro1.com.br/antropologo-ordep-serra-e-eleito-para-a-academia-de-letras-da-bahia-6-47331,noticia.html
(acessado em 08/09/14);
4.
Imagem. http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Bloco+Afro+Ijex%C3%A1+Filhos+de+Gandhy,+Salvador,+Bahia<r=b&id_perso=2437
.Bloco Afro filhos de Gandhi, Salvador, Bahia. (acessado em 08/09/14)
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